
Uma bioconversa com Maria de Jesus Afonso de Araújo.
Maria de Jesus Afonso de Araújo, utente do Lar de Santa Teresa em Viana do Castelo, nasceu na freguesia da Meadela, às portas da mesma cidade, em 1937. Nascida com apenas uma das mãos, nunca permitiu que a sorte a limitasse. Com uma educação marcada pelo apreço pela língua francesa, conheceu por dentro, quer com a sua dedicação ao estudo, à comunidade ou ao trabalho, diversos ex-libris educativos, culturais, religiosos e empresariais da comunidade vianense. Pelas suas vivências, hoje somos todos herdeiros da bondade do seu conselho plural e solidário.
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Uma mão, muitos talentos
Maria de Jesus Afonso de Araújo nasceu em 24 de novembro de 1937, na freguesia da Meadela, onde viveu toda a sua vida. “Eu nasci na Meadela. Na verdade, praticamente sempre cá vivi. Nunca me passou pela cabeça sair daqui, nem nunca me imaginei a imigrar ou mudar-me para outro sítio”, afirma.
Sendo a filha mais nova, partilhava o lar com a sua irmã e com os seus pais. Juntos, formavam, com a exceção do número de filhos, uma das tipologias mais comuns de uma família das décadas de trinta e quarenta, do século XX português. A sua mãe, dona de um coração maior, cuidava das lides da casa e, através de uma forte matriz educacional católica, zelava pela edificação social das filhas. O pai, homem bom, dedicava-se aos trabalhos agrícolas. “A minha família era uma família de lavradores. Era uma família muito boa e muito simples. O meu pai ainda chegou a estar quatorze anos a trabalhar em França, mas era lavrador e a minha mãe era doméstica. A minha mãe era uma senhora que sabia fazer bolos muito bons e sabia fazer todo o tipo de cozinhados. Era uma senhora que sabia bem as normas da educação! Eu tinha uma irmã mais velha, mas infelizmente já faleceu há coisa de um ano”, recorda.
Maria de Jesus era uma criança diferente, nascera sem mão esquerda. Esse facto, em tempos tão distantes e contextos tão diferentes, poderia ter-lhe esculpido, desde logo, o destino. Em todo o caso, Maria de Jesus demonstraria, desde cedo, uma determinação notável, capaz de contrariar qualquer esboço de um futuro pré-determinado que se pudesse vislumbrar no seu horizonte. “Eu, para o bem e para o mal, nasci com uma deficiência, nasci sem a minha mão esquerda e, por isso, uso uma prótese. Apesar disso, a minha infância foi muito alegre. Eu conseguia fazer tudo aquilo que as outras crianças faziam, mesmo sem ter a minha mão esquerda. Elas jogavam ao jogo da corda e eu também. Por vezes até lhes ganhava”, afirma sorridente.
A educação escolar assumiria uma parte importante na vida da jovem Maria de Jesus. Depois de concluir a instrução primária na velhinha escola da Meadela, a sua mãe, preocupada com o futuro da filha, decidiu matriculá-la no Colégio de São José[1]. “Quando a minha mãe me foi matricular ao Colégio de São José, as freiras questionaram que estudos é que eu tinha. A minha mãe respondeu-lhes: ‘Ela tem agora a quarta classe e passou, mas não chegou a fazer o exame de admissão ao liceu’. As freirinhas deixaram que me matriculasse no Colégio, com a condição de, por não ter feito o exame de admissão, voltar a fazer a quarta classe e assim foi. Ainda cheguei a fazer o quinto ano”, relembra.
Ao longo do seu percurso escolar, as línguas, em detrimento dos números, tomavam-lhe a preferência. O “francês”, língua tradicional no imaginário romântico, era a sua disciplina favorita. “Eu gostava muito de línguas e tirava boas notas. A disciplina que mais gostava era o francês. Veja bem que ainda me lembro do nome da professora de francês. Chamava-se Cármen e era de Famalicão… Lembro-me de um episódio que me marcou, nessa altura. Estava a fazer o exame de francês e a Doutora do Liceu[2], Luísa Vasconcelos, pediu-me para fazer a leitura do tema ‘cozinha’. Na verdade, era um tema que eu sabia de cor e salteado. Quando dei por mim, cheguei a um ponto em que não fui capaz de ler a palavra ‘tacho’, pois eu sabia que deveria ler de uma forma diferente da forma escrita. Era uma exceção à gramática. Lá disse a palavra ‘tacho’ da forma que eu considerava correta, e a Doutora interrompia sempre para dizer ‘menina deite atenção, vá, vá’. Tenho ideia, que estive cerca de um quarto de hora a repetir a palavra, até que às tantas, li como a Doutora queria que eu lesse. Aí ela respondeu de imediato: ‘Até que enfim!’. O momento passou, mas logo depois a minha professora, chamou-me de parte e disse: ‘tu, no fim, foges para fora do liceu e esperas lá fora por mim. Eu vou falar com a Doutora que te fez o exame, pois na verdade tu tens razão, disseste a palavra de forma correta’. Tal como pedido pela minha professora, esperei. Mais tarde, a minha Professora veio pedir-me desculpa pelo sucedido, dando-me razão. Esse momento deixou-me muito nervosa, foi uma situação desagradável, mas no fundo trouxe-me alguma satisfação. Na verdade, eu estava certa… Depois, também houve um professor que me marcou muito… Eu tinha a disciplina de desenho e ele deu-me quatorze valores devido a um desenho que eu fiz. Como ele me deu quatorze valores e como ele nunca tinha dado essa nota, eu questionei o porquê de ma ter dado: ‘O professor nunca deu esta nota?’ E ele respondeu: ‘Pois não, mas eu dei essa nota à menina, porque fez o desenho com uma mãozinha só e com régua e esquadro, tal como os outros colegas. E a menina fez o desenho muito bem feito.’ Fiquei muito feliz por ele me ter reconhecido. Nunca mais o esqueci. Era o Major Mário Cunha… Mas olhe que a disciplina que eu não gostava nada era a matemática. A matemática era a disciplina que eu nem podia, é que nem podia mesmo, ver à frente. Recordo-me que tive um professor explicador que era “bastante reto e exigente”, era o Senhor Moreira. Sempre que errávamos ele batia com os punhos na mesa… eu estudava e esforçava-me, mas tinha sempre medo de errar. E há uma passagem curiosa com esse professor… Houve um dia em que eu disse à minha colega, que também lá andava nas explicações: ‘hoje não vamos à explicação e vamos para o Dantas[3] comprar azeitonas e broa e vamos para o jardim comer’. E assim foi, compramos as azeitonas e um bocado de broa e fomos comer para o jardim. Dali a pouco, estávamos nós sentadas no jardim e avistamos o nosso explicador, que vinha debaixo da ponte, e a minha colega diz assim: ‘Ai Jesus, que vem aí o Senhor Moreira, vamo-nos por a mexer’. E lá nos escondemos, para que ele não nos visse. Nesse dia, acabamos por não ir à explicação. No dia seguinte, na explicação, o Senhor Moreira disse-nos assim: ‘as meninas, ontem, não vieram à explicação!’. E eu respondi-lhe ‘Pois não! Nós chegámos a vir aqui, mas o Senhor Moreira não estava. Então, para fazermos um bocadinho de tempo fomos ver as montras, na cidade’. Ele acabou por responder que tinha vindo mais tarde por motivos pessoais. ‘Livrámo-nos de boa’ – pensei para mim”, relembra Maria de Jesus, numa cascata de sorrisos e nostalgias.
Com uma memória extraordinária, quase invejável, Maria de Jesus aproveita para associar ao discurso algumas das suas brincadeiras de criança, “umas queridas e outras um bocado travessas… Nos meus tempos livres, que eram poucos, gostava de brincar às pedrinhas, gostava de jogar à bola, de cantar, de jogar às escondidinhas… gostava de brincar às casinhas e às profissões, de correr no campo… olhe, lembro-me de um dia estar a correr no campo, por cima de uma terra que estavam a escavar. Quando vou a correr, assim de repente, vejo à minha frente um grande buraco. Aquilo parecia um abismo! E eu disse assim, assustada, com o coração aos saltos e aliviada ao mesmo tempo: ‘Ai, graças a Deus! Ai a sorte que eu tive em não cair lá para dentro’… Também me lembro do respeito que havia, à noite, em casa dos meus pais. A minha mãe rezava, todas as noites, e pedia sempre para rezarmos em família. E nós lá tentávamos ficar muito caladinhas. Eu, atrevida, às vezes falava e a minha irmã também. Quando isso acontecia, a minha mãe dava-nos logo com a colher de pau que mantinha sempre por perto.” recorda.
A bondade e a explicação da apontadora
Com uma determinação cada vez mais forte, na entrada da adolescência, já se desenhava em Maria de Jesus uma vocação para a bondade, para o serviço à comunidade e para o cuidado ao próximo. A matriz dos valores cristãos católicos, incutida pela sua mãe e mestre, revelavam os seus frutos e a jovem adolescente, replicava-os, sem reservas, na conduta quotidiana, onde incluía os seus serviços à paróquia. “Lembro-me bem das festas desse tempo em que era mais novinha… Havia a festa do Menino Jesus, no Natal e por essa altura, o Padre Albino, dizia-me assim: ‘Maria de Jesus, tu vais-te encarregar de arranjar pessoas para ir ao monte buscar o musgo e de ir falar com o Senhor Sales, de Santa Marta de Portuzelo, para vir fazer o presépio à Igreja. Também te vou encarregar de ires à fábrica do fogo fazer a encomenda dos foguetes.’ E eu, uma menina tão jovem, fazia tudo sozinha”, afirma com orgulho. “Depois havia um senhor que era nosso amigo e eu pedia-lhe ajuda para fazer umas coisinhas para o presépio. Um dia, ele até desenhou a nossa Igreja, que é linda e pequenina, mas dava gosto vê-la”, acrescenta. “Havia também a festa da Senhora das Dores, a festa de Santa Cristina, que é padroeira da Meadela. Havia a Festa de Santo António, a Festa de São José, a Festa da Nossa Senhora da Ajuda e, até para essa, eu arranjava umas coisas para o leilão que sempre se fazia. Lá pedia ajuda à minha mãe e ela arranjava sempre uma cestinha com peras, maçãs, batatas, nozes, castanhas, o que houvesse, e eu levava esse cesto à Senhora da Ajuda. Também ia pedir para a Nossa Senhora de Fátima… pela igreja abaixo, lá ia eu sozinha e sem um braço. A minha catequista pedia-me e eu lá ia sozinha pedir, sem qualquer vergonha… eu desde muito cedo, que sempre gostei de ajudar as pessoas que tinham mais dificuldades e além da minha mãe, até as minhas professoras incentivavam a isso. Até elas diziam muitas vezes: ‘meninas, há muitos colegas que têm muitas dificuldades e não têm o que comer’. E, por isso, eu achava bem que lá em casa se juntassem algumas coisas para podermos dar aos mais pobres. Juntar algumas coisas e levar-lhes a casa. Eu era criança, mas ficava toda contente e feliz por sentir que estava a ajudar!… Levávamos batatas, feijões, tudo o que a minha mãe podia dar”, assevera.
Aos 17 anos e depois de concluir o quinto ano, Maria de Jesus, sentia ser a hora de procurar um emprego. Não tardou em encontrar uma oportunidade no escritório da Fábrica de Louça da Meadela[4]. Aí trabalharia durante 14 anos até a fábrica passar por um tempo de dificuldades. “Na Fábrica de Louça da Meadela trabalhei como apontadora. O meu trabalho era contar quantos pratos cada trabalhador fazia e registá-los… e veja bem que no meu tempo de escola eu nem gostava de matemática. As voltas que a vida dá!”, exclama. Passado pouco tempo, empregar-se-ia “no escritório da Fábrica da Portucel[5]”, onde permaneceu por dezoito anos, com a função de “gerir os produtos em stock” no armazém. “Passados esses dezoito anos, o meu posto de trabalho fechou e eu fiquei desempregada… Ainda fiquei desempregada durante cerca de quatro meses. Durante esse tempo, escrevi para jornais a pedir emprego… procurei trabalho em vários sítios até que, um dia, fui a um hotel aqui em Viana do Castelo. O hotel, nessa altura, estava em obras e o senhor que me indicou para lá ir era o empreiteiro que lá trabalhava. Ele tinha-me dito que o hotel estava à procura de pessoas para quando reabrisse. Dirigi-me ao sítio e falei com um senhor do hotel: ‘olhe, meu senhor, eu venho aqui a mando do empreiteiro desta obra, ele disse-me que me dirigisse a este hotel, para ver se há emprego para mim, que estou desempregada. Mas eu vou-lhe dizer uma coisa, eu não tenho uma mão…’ O senhor interrompeu-me logo e disse: ‘é escusado dizer mais alguma coisa que eu não tenho emprego para si. No hotel só podem trabalhar pessoas perfeitas.’ Apesar da resposta, eu tentei novamente, dizendo que podia ser qualquer coisa, nem que fosse debaixo das escadas, que faria qualquer trabalho, mas ele respondeu novamente com um ‘não’ e mandou-me embora… Entretanto, chegou uma altura em que eu já me podia reformar e, assim fiz. Aquele momento, no hotel, foi um momento difícil, mas eu não desisti. Mesmo depois de reformada continuei a trabalhar… momentos como aquele mostram que a vida tem sempre desafios guardados para nós, seja qual for a idade. Aquilo que é mais importante, é superar esses desafios”, assevera convicta. “Depois comecei a dar explicações em casa, onde ia preparando os meninos para a quarta classe. Eu não queria ser professora, mas para ocupar o meu tempo tornei-me explicadora. E olhe, eu lá comecei a ensinar os meninos e eles começaram a ser dos melhores alunos da escola. Até que as professoras da escola os mandavam ter comigo e diziam aos pais: ‘mandem os vossos filhos para a Dona Jesus que ela endireita-os!’ E era mesmo assim, depois eles começavam a ser bons alunos”, acrescenta, com legítimo orgulho.
Um elogio à memória
À medida que os anos passavam, depois de uma vida de trabalho, de cuidado e dedicação à sua comunidade, começava a tornar-se evidente para Maria de Jesus a necessidade encontrar um lugar onde pudesse, ela mesma, ser cuidada. “Fui eu que quis vir para o Lar, onde estou há cerca de 12 anos. E foi assim, naquela altura, eu tinha sofrido algumas quedas e, numa delas, acabei por partir o braço. Fui ao médico e pedi-lhe para me deixar ficar lá no hospital. Ele disse-me que não era possível, mas encaminhou-me para uma casa de recuperação. Estive numa casa de recuperação aqui em Viana durante cerca de três meses e depois fui transferida para Monção, onde fiquei, numa outra casa, por mais três meses. Nessa altura, a minha sobrinha disse-me, ‘tia, tens de pensar para onde vais, tens de sair daqui após os três meses’. Respondi-lhe imediatamente que queria ir para um Lar. Assim foi, a minha sobrinha conseguiu um lugar para mim aqui no Lar de Santa Teresa e olhe, gosto muito de cá estar, tenho muitos amigos e tenho outros que me vêm visitar”, partilha, com um olhar revelador da sua satisfação.
Hoje, dedica o seu tempo livre a atividades mais serenas como a leitura, que lhe permite continuar a nutrir a cultura e a curiosidade. “Gosto muito de ler. Leio os jornais, publicações de ação católica, o ‘Aurora do Lima’. Também gosto muito de ler a revista ‘Mundo Rural’, que fala das coisas do campo. ‘Ah, como eu gosto da vida do campo…’, suspira Maria de Jesus.
A gastronomia também ocupa um lugar especial na sua lista de predileções. “Sabe, um dos meus pratos favoritos é o arroz de lampreia. É mesmo a coisa que mais gosto. Mas, na verdade, um cozido à portuguesa, um arroz de sarrabulho, também são pratos que gosto muito. Felizmente, aqui na nossa instituição, às vezes, fazem um cozido à portuguesa ou umas papas de sarrabulho… ai que bem que me sabem! Dá para matar a saudade… eu até queria comer mais, mas não me deixam e tem razão… porque não posso, por causa da minha saúde! E temos mesmo de cuidar da saúde!”, defende com uma gargalhada.
Desde berço, Maria de Jesus mantêm a fé e a solidariedade como pilares fundamentais da sua vida. Pilares que lhe moldaram as suas, mais do que legítimas, visão do mundo e matriz atitudinal. “Eu acredito muito em Jesus Cristo e em Nossa Senhora, sou muito fiel aos ensinamentos da Religião Católica, e a solidariedade é um valor que admiro muito. Recordo-me de um episódio que me marcou e me fez acreditar que temos de respeitar todas as pessoas, tal como são, respeitar as suas crenças e religiões e dar-lhes todo o valor… foi assim: quando ainda trabalhava na Portucel… eu almoçava na empresa e, num desses momentos, estava a tentar partir a minha carne, mas sem uma mão, nem sempre era uma tarefa fácil. Quando dei por mim, uma menina, levantou-se e veio ajudar-me. Foi um gesto que até ali, nunca ninguém tinha tido comigo. Pois ela era protestante e, ainda assim, ajudou-me! Admirei, e ainda hoje admiro, a atenção que teve para comigo… e sabe, uma das lições que me ficou mais presente foi aquele grande exemplo da minha mãe ser amiga dos pobres. O meu pai e eu ouvíamos dela, tantas vezes, para darmos coisinhas aos pobres, sobretudo no Natal”, afirma. É, também, a partir desses ensinamentos que lhe surge, num novo ato de generosidade e solidariedade, uma mensagem sábia, dirigida às gerações mais novas. Sugere Maria de Jesus: “Meninos: estudem muito, sejam bons alunos e aprendam a trabalhar em algo que gostem, respeitem o próximo, mesmo que vos pareça diferente, e sejam sempre solidários”.
Hoje, em retrospetiva, Maria de Jesus olha com orgulho e satisfação, para uma vida bem vivida até ao presente: “…considero que não deixei nada por fazer. O casamento nunca foi um sonho para mim, apesar de alguns rapazes ainda terem andado atrás de mim, mas eu fugia deles. Tenho dois sobrinhos e cada um deles tem dois filhos, que vejo como meus filhos e meus sobrinhos netos. Posso dizer que viajei muito. Há cerca de quarenta anos, por exemplo, fui a Israel e adorei. Também estive em Paris, em Itália, fui a Andorra e à Madeira. Posso dizer que vivi bem até hoje, e digo mais, voltaria a viajar!” declara prontamente, como quem deixa esvoaçar um desejo. “Hoje, posso dizer que fui muito feliz. Na minha vida, além da minha mãe, da minha família, as pessoas mais importantes para mim foram as minhas catequistas, o Senhor Padre Albino e mesmo os professores que tive…, embora nem todos. E, claro, o meu pai. Ao meu pai devo-lhe tudo, sempre foi muito meu amigo, carinhoso, o meu guardião”, conclui, em jeito de homenagem.
Maria de Jesus, uma senhora ímpar, de espírito elegante e sereno, atravessou uma vida repleta de superações constantes, sem qualquer vestígio de murmúrio e, talvez sem o saber, no cumprimento exemplar de uma das mais importantes regras do Santo católico Bento de Núrsia[6]. Maria de Jesus mostra-nos, através do seu testemunho, que a força de vontade e a fé podem transformar os obstáculos em oportunidades socialmente tão ricas, cujos reflexos, ultrapassando os do seu próprio limiar, brilham como uma verdadeira fonte de motivação e inspiração para nós.
[1] Um importante acervo fotográfico relativo ao antigo colégio de São José de Viana do Castelo pode ser conhecido através de uma página desenvolvida por ex-alunas, disponível em: https://www.facebook.com/profile.php?id=100064489308291&sk=mentions&locale=pt_PT
[2] O antigo Liceu de Viana do Castelo, cujos primórdios remontam a 1853 e uma única sala no Convento de São Domingos, esteve posteriormente instalado no edifício conhecido por “Casa dos Quesados”. à data da referência, estrava-se um novo edifício do Liceu.
[3] A Pastelaria Dantas é uma das mais tradicionais e conhecidas pastelarias de Viana do Castelo. Fundada em 1915, está localizada na Rua Manuel Espregueira, uma das principais ruas comerciais da cidade.
[4] A Fábrica de Louça da Meadela, também conhecida como Empresa de Cerâmica Regional Vianense, Lda., foi fundada em 1947 com o objetivo de retomar a tradição da cerâmica artística vianense.
[5] A antiga Portucel Viana é uma importante unidade fabril, produtora de papel, localizada na freguesia de Deocriste, em Viana do Castelo. Ao longo da sua história foi vendida e adquirida por diversas multinacionais. Continua hoje a representar um marco na indústria papeleira nacional.
[6] Bento de Núrsia, conhecido pelos católicos como São Bento, fundou a Ordem monástica beneditina, em 529, em Itália. Com a criação da Ordem Religiosa, instituiu um conjunto de Regras para alicerçar o funcionamento quotidiano da comunidade. Essas Regras são comumente conhecidas de Regra de São Bento. A Regra número 34, defende “…Antes de tudo, que não surja o mal da murmuração em qualquer palavra ou atitude, seja qual for a causa…”
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